O nosso "humilde" Sócrates

Interroguei-me sobre qual deveria ser o motivo da minha próxima diarreia, e diga-se, tive muitas... algumas de causas desconhecidas, outras em que tinha a certeza da sua causa, e perante a minha dúvida, decidi tornar pública aquela que me ocupou mais tempo... ( Foi uma bela cagadela ).
Peço desculpa a todos os que me vão ler, ou seja, a mim ( mas quem é que vai ler isto, nobody) por falar de merda, mas num blogue intitulado Diarreia, falar de merda não choca quem se predispõe a lê-lo...
Como podem advinhar falarei do nosso primeiro ministro ( minúsculas propositadas, ainda está para vir o dia em que falarei de políticos com respeito ) e da sua postura e humildade.
Aliás, quem de nós olha para o nosso primeiro e não lhe vê essas características, só se for cego... ou então não o conhecer...
Vamos então conhecê-lo, não pela sua biografia mas pelo comportamento do dia a dia ( é assim que devemos analisar os políticos, o curriculum é para enganar o povo ):
"Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adoptava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confrontar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objecto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias."
Pois, como repararam enganei-me no Sócrates, mas é um erro comum, pois têm o mesmo nome e maneiras de estar iguais.
O nosso Sócrates sempre demonstrou ser uma pessoa aberta ao diálogo e que sempre pautou a sua actuação pela humildade.
Afinal ele disse:
"Mas quero, agora, dirigir-me a todos os portugueses. Para agradecer a confiança que depositaram no Partido Socialista e para lhes dizer que encaro esta vitória eleitoral sem nenhum triunfalismo e sem nenhuma arrogância. Pelo contrário encaro-a com humildade e com sentido da responsabilidade. Para o P.S. esta maioria absoluta significa mais exigência e mais motivação"
E disse ainda:
"
Não é a maioria absoluta que levará o P.S. a dar menos atenção às oposições ou ao Parlamento. Pelo contrário, a maioria absoluta exige-nos – estarmos bem conscientes disso – um respeito e uma atenção acrescida pelas opiniões de todos."
Este homem é um verdadeiro senhor...
Adorei vê-lo numa visita à escola em que os professores se encontravam no exterior numa manifestação pelos seus direitos.
Quando estes começaram a dirigirem-lhe a palavra, ele prontamente assumiu humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância.
Ele aberto ao diálogo e respeitando a opinião de todos, virou costas e entrou na escola.
Rodeado de jornalistas, ele, aberto ao diálogo, recusou-se a falar para os jornalistas e entrou rodeado de capangas na escola.
No caminho, foi abordado por um professor que afirmava ser o representante dos professores e que lhe queria entregar um papel onde continha as revindicações dos professores, ele, aberto ao diálogo, continuou o seu caminho constrangindo os presentes à confissão humilhante da sua ignorância.
A seguir aceitou ser entrevistado ( para o jornal da escola e por uma miúda que deveria ter os seus 10 anos ), e passeando alegremente ( com aquela cara linda de humilde) pelo pátio da escola, enquanto respondia à miúda viu-se novamente confrontado pelo barulho insurdecedor dos professores ignorantes... o que fazer???
Não posso usar os jornalistas, pois disse que não prestava declarações - pensou ele humildemente e aberto ao diálogo.
Então, comenta com a miúda a má educação e prepotência dos professores... ao que ela responde, Sr. Primeiro Ministro ( maiúsculas porque a miúda ainda é nova e teve, de facto, respeito pelo político - ainda é nova e o tempo lhe dirá que estava enganada ) estão na defesa dos seus direitos...
Então ele, na presença da sua discípula foi o próprio adversário vencido, constrangendo-se à humilde confissão interna da derrota.
Como são parecidos os nossos Sócrates...
Ora, continua diariamente a colocar o método socratico em prática ( ligeiramente temperada ou mitigada pela sua própria gnosologia socrática ), tendo desta vez, segundo se diz, intaurado um processo disciplinar a um dirigente sindical de uma das forças da autoridade, por este ter dito que o mandava para o Quénia.
Sendo que aquele disse, qualquer coisa como, ninguém nos ouve, ninguém quer saber das nossas reinvidicações, "Já mandamos um primeiro ministro para Bruxelas e mandaremos este para o Quénia" ( minúsculas, o homem é um homem vivido).
Claramente, o nosso primeiro ( "e a maioria absoluta exige-nos – estarmos bem conscientes disso – um respeito e uma atenção acrescida pelas opiniões de todos ) queria que o deixassem trabalhar, e sentiu-se ofendido quando alguém lhe queria oferecer umas férias com tudo pago.
Pois se seriam eles que o mandavam, seriam eles que pagavam... e quem sabe não iria num F-16 das forças armadas...
Pois e então...????
Impunha-se agora uma qualquer conclusão, um qualquer em suma, com um comentário brilhante típico dos opinion makers... que nunca fazem nada ( makers???) e que nunca têm opinião de nada em particular mas de tudo em geral.
Mas não, moral da história?
Não tem, é antes uma história moral...
E afinal de quem é a culpa?
Ninguém...

"a culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular"
José Mário Branco
( Trocas e Baldrocas - Se optarem por ler o texto em baixo, troquem a palavra FMI por Sócrates... e o texto terá uma nova interpretação actual )
"Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe..."
excerto de FMI, José Mário Branco
Sem mais,
Inquietação